O Amor nos Tempos de Cólera - Opinião

Terminei agora o meu primeiro livro do colombiano Gabriel García Márquez, O Amor nos Tempos de Cólera, publicado em 1985.

O romance conta-nos a história do apaixonado Florentino Ariza, de Juvenal Urbino, o médico mais respeitado da cidade, da bela Fermina Daza, conhecida pela sua vincada personalidade, da tia Escolástica, da prima Hildebranda e de tantos outros, todos portadores de nomes tão curiosos quanto peculiares.

The Kiss, Gustave Klimp (c.1907/1908)
Para além da história tão especial que é, o que eleva este livro à categoria de um dos melhores do século XX é a forma real e crua com que trata cada personagem, sem filtros ou preconceitos. Aqui não existem personagens que possamos identificar como uma aproximação do ser humano ideal, à semelhança de tantos outros livros. São nos expostas frágeis e, essencialmente, reais. Mesmo as, à partida, mais facilmente irrepreensíveis são nos desnudadas e apresentadas como seres humanos verdadeiros, com defeitos e manias. 

Um outro estandarte, ou talvez mesmo, a grande bandeira desta obra é, mais uma vez, a crueza, o realismo, o humanismo com que García Márquez descreve cada relação entre as personagens. A  tamanha sabedoria e simplicidade com a qual o escritor nos apresenta os laços entre as personagens é impressionante. O amor é nos apresentado sem reservas, por vezes brutal, triste, incompreensível, e , por isso, podendo mesmo ser confundido com os sintomas da cólera. Mas é, claro, provido da sua inerente beleza intemporal. 

Não querendo entrar em caminhos mais concretos, pois não querendo roubar a surpresa e encanto do enredo deste livro, aconselho vivamente a sua leitura que, para além da qualidade literária em si, é de um enriquecimento humano enorme. 

~Maria Alves

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