Ensaio sobre a Cegueira - Review

Hoje falo-vos de um livro que li há algum tempo, o "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago, o nosso Nobel da Literatura.

Este é o meu terceiro livro do autor, sendo que o meu primeiro foi "O Homem Duplicado"e o segundo tratou-se do "Memorial do Convento", leitura obrigatória de 12º ano na altura e recentemente substituído pelo "Ano da Morte de Ricardo Reis", também de Saramago. Gostei imenso de ambos, apesar de ter mais perto do coração o "Memorial do Convento". O episódio da Epopeia da Pedra é das coisas mais bonitas que já li. Contudo, em ambos os livros senti sempre que a leitura era um pouco pesada, trabalhosa. Por isso, foi com grande surpresa que percebi que o "Ensaio sobre a Cegueira" não era nada disso. 

Desde a primeira página, tudo reteve a minha atenção de forma tão natural que, quando dei conta, já estava nas últimas páginas do livro. A escrita é simples mas ao mesmo muito rica e o uso recorrente de expressões populares dá-nos uma sensação de familiaridade algo curiosa. A juntar a isto, os capítulos são curtos, o que também me agradou.

A história é muito cativante e transporta-nos para um mundo paralelo onde se explora justamente a cegueira e a sua relação com o Homem, daí ser um ensaio: E se eu, de um momento para o outro, cegasse? E se isso acontecesse num momento em que a minha visão fosse essencial, estando a conduzir, por exemplo? E se sucedesse a alguém que me é muito próximo? E se de repente a cegueira fosse um vírus ou mesmo uma condição que afetasse todos os seres humanos? Como seria a vida do grupo de pessoas afetadas pelo vírus ou a vida de toda a sociedade, caso, de repente, todos ficassem cegos? São estas algumas das questões que Saramago explora nesta obra. Mas para além deste exercício de exploração, o livro carrega uma mensagem muito maior e esta aplica-se a todos nós leitores, que a temos de descodificar ao longo da leitura. Trata-se de uma história que aborda as particularidades que nos fazem humanos, as melhores e piores, e que, acima de tudo, deixa em nós leitores uma vontade de tentarmos ser melhores.

Deixo um excerto do livro que achei muito interessante, livre de spoilers, para os mais curiosos:
"O senhor é escritor, tem, como disse há pouco, obrigação de conhecer as palavras, portanto sabe que os adjetivos não nos servem de nada, se uma pessoa mata outra, por exemplo, seria melhor enunciá-lo assim, simplesmente, e confiar que o horror do ato, só por si, fosse tão chocante que nos dispensasse de dizer que foi horrível, Quer dizer que temos palavras a mais, Quero dizer que temos sentimentos a menos, Ou temo-los, mas deixámos de usar as palavras que os expressam, E portanto perdemo-los".


Existe uma adaptação cinematográfica do livro, dirigida por Fernando Meirelles, realizador de grandes filmes, tais como O Fiel Jardineiro ou a Cidade de Deus, intitulada de Blindness no título original. O filme conta com grandes nomes nos papéis principais: Julianne Moore e Mark Ruffalo. Talvez fosse interessante ver o filme e fazer um post sobre a relação filme/livro.

~Maria



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